Teoria e Análise Linguística

 

A (In)Definitude da perspectiva das línguas sub-representadas
(In)Definiteness: the perspective of under-represented languages

Chamada CNPq/MCTI/FNDCT Nº 40/2022
Linha 1-B
Pesquisa em temas livres em Ciências Humanas, Ciências Sociais
Aplicadas, Linguística, Letras e Artes em Rede 

Ana Clara Olivera Polakof (UDELAR), Ana Paula Quadros Gomes (UFRJ), Carolina Oggiani (Universidade de Buenos Aires), Diego Rodrigues Lopes (UFSC), Fernando Carranza (Universidade de Buenos Aires), Gennaro Chierchia (Universidade de Harvard), Helena Guerra Vicente (UNB), Isabella Coutinho (UERR), Leia de Jesus Silva (UFSC), Marcus Lunguinho (UNB), Pablo Zdrojewski – (Universidade de Buenos Aires), Roberta Pires de Oliveira (UFSC), Romina Trebisacce (CONICET) e Veneeta Dayal (Universidade de Yale)

Resumo: O projeto, vinculado ao grupo “(In)definitude através das línguas/(In)definiteness across languages” http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/6649298354394592, estuda a sintaxe-semântica do sintagma nominal em 8 línguas subrepresentadas (6 minoritárias em vitalização). Busca verificar os parâmetros semânticos (Chierchia 1998, 2021) em relação com a (in)definitude, um conceito em escrutínio (Dayal 2004, 2022). Emprega diferentes metodologias – introspecção, coleta de dados e experimentos. Busca mapear essas línguas quanto aos parâmetros e a (in)definitude e formular um modelo teórico que explique a variação. Eis algumas das questões em estudo. Como gerar o sistema nominal genérico no PB (Pires de Oliveira, prelo)? Como é a genericidade no Espanhol Rioplatense e por que a preposição licencia a leitura genérica, um caso de DOM (Carranza et al)? Como é a gramática do Portunhol (Oggiani et al)? Como são os indefinidos complexos? O Mebêngokrê (Macro-Jê) parece marcar a indefinitude indicando a posição epistêmica do falante; qual a relação entre indefinidos e evidencias (Mendonça e Quadros Gomes)? Em Terena (Aruak), há dois artigos definidos, um definido forte e outro fraco (Aroaldo et al)? Kaiowá (Tupi-Guarani) (Guerra Vicente et al), Wapichana (Aruak) (Coutinho Costa et al) e Rikbaktsa (Macro-Jê) (Silva et al) não têm artigos, têm flexão de número, singular e plural nus com leitura genérica; o que faz o plural nessas línguas? O projeto conta com 11 pesquisadores (6 de 4 universidades federais nacionais, 3 da Universidade de Buenos Aires e 2 da Universidade de Montevideo) e a supervisão de Dayal (Universidade de Yale) e Chierchia (Universidade de Harvard). Contribuirá para o desenvolvimento científico ao ampliar a cobertura empírica e propor modelos em semântica; contribuirá para a formação de recursos humanos, a documentação e vitalização das línguas minoritárias, a elaboração de material didático para ensino dessas línguas e para a divulgação científica.

 

Sistemas Nominais através das línguas: parâmetros, aquisição e processamento semântico

Roberta PIRES DE OLIVEIRA (CNPq/UFSC/UFPR)

Resumo: O projeto de 4 anos que investiga os nominais nus, os sintagmas com artigos definidos e indefinidos, e os sintagmas de medida a partir de Pires de Oliveira (2020, no prelo). Trata-se de um modelo teórico que explica o sistema nominal do Português Brasileiro (PB) e o inglês, tendo como fundo os parâmetros semânticos (Chierchia 1998, 2010, 2021). Objetiva avaliar a hipótese de que o Singular Nu (SNU) é subespecificado para a atomicidade, focalizando as diferenças com outros sintagmas – o Plural Nu, o indefinido e o definido genérico – em contextos de medida e comparação, e as diferenças com outros sistemas nominais, como o espanhol Rio-Platense e línguas indígenas brasileiras. Busca verificar se de fato é possível afirmar, como fazem Dellai et al. (2021), que Rikbaktsa (Macro-Jê) é uma língua que marca número no determinante, como é o caso do PB (Pires de Oliveira 2020). Investiga os sintagmas de medidas e as diferentes maneiras de contar através das línguas. Investiga se o Plural Nu é um indefinido plural, procurando entender as diferenças com o artigo indefinido.

A modalidade e os nominais através das Línguas

Roberta PIRES DE OLIVEIRA (CNPq/UFSC/UFPR)

Resumo: Este projeto de 4 anos irá investigar uma proposta sintático-semântica-pragmática para os modais nas línguas naturais, tendo a semântica como foco. Esse é um território vasto. A hipótese central é que os modais, entendido em sentido amplo (auxiliares modais, advérbios modais, adjetivos modais e morfemas) carregam uma variável contextual, como ocorre nos adjetivos de grau. Supomos que se trata de uma pressuposição. Essa variável (um pronome?) é interpretada em diferentes momentos da derivação. A hipótese avança Hacquard (2010) com uma implementação diferente (em que modais são relativos a mundos e não a eventos) e permite a existência de deônticos altos (ought to be , Brennan, 1993). Exploraremos a ideia de que a Base Modal Ordenada é atualizada em diferentes momentos da derivação. Buscamos relacionar o ato de fala ? afirmar ou ordenar ou exclamar ? à modalidade. Asserções, relatos são epistêmicos, indicam a posição de conhecimento do falante: o falante relata uma ordem. Derivamos então a leitura epistêmica ou deôntico baixo, ought to do . Uma ordem é de outra natureza. Não é possível ordenar alguém a acreditar em algo, por princípio a crença é livre. Obtemos então a leitura deôntica alta e a distribuição clássica na literatura entre epistêmicos e deônticos. Desenvolvemos a hipótese de Pires de Oliveira & Ferreira Rech (no prelo). A subordinação confirma que a estrutura é afirmar uma ordem. Não é possível ordenar a alguém para afirmar algo; pode-se dizer algo sem estar comprometido com o dito mas não se pode afirmar algo sem esse comprometimento, que é do livre arbítrio. Há uma explicação pragmática para a ordem epistêmicos e deônticos. Além de almejar uma apresentação formalizada da proposta (Veja o Apêndice para uma primeira versão), essa hipótese será verificada na análise de diferentes evidências empíricas: (i) o papel do tempo e do aspecto que parece suprimir a leitura epistêmica; (ii) a interpretação simbolética em inglês e no Português Brasileiro; (iii) adjetivos modais (de grau) através das línguas, também em línguas que não têm adjetivos como Kotiria (Tukano Oriental): (iv) advérbios modais no Português Brasileiro e em outras línguas, em particular no Wapichana,; (v) condicionais no Português Brasileiro e no Wapichana que parece utilizar a justaposição como estratégia; (vi) sistema modal em línguas não indo-européias em particular o Wapichana. Diferentes metodologias de coleta de dados serão utilizadas, incluindo experimentos controlados. Como deve estar claro esse é um projeto interdisciplinar e que conta com uma equipe: dos alunos da iniciação científica a supervisões de pós-doutoramento. Este projeto pretende contribuir para a área da semântica formal das línguas naturais, para a educação, para processos de revitalização de línguas em perigo e para a compreensão da cognição em sentido amplo.

A ARQUITETURA DA SENTENÇA E AS POSIÇÕES DO SUJEITO –
a duplicação do sujeito no Português Brasileiro

Sandra QUAREZEMIN (UFSC/CNPq)

Resumo: Este projeto visa ao estudo das sentenças do português brasileiro (doravante PB) que apresentam o sujeito pré-verbal duplicado por um pronome e, ao mesmo tempo, a uma investigação acurada das propriedades relacionadas ao sujeito e ao tópico. Fundamentado na abordagem cartográfica (cf. RIZZI, 1997; CINQUE, 1999), o estudo abordará um conjunto de propriedades que permitem distinguir as sentenças com deslocamento à esquerda das sentenças com sujeito duplicado. Alguns trabalhos sobre o redobro do sujeito no PB (cf. BRITTO, 1998; KATO, 1999; BARBOSA; DUARTE; KATO, 2005; 2016) associam este tipo de construção às sentenças do francês com deslocamento à esquerda do sujeito e pronome expletivo. O objetivo principal desta pesquisa é investigar as sentenças com redobro do sujeito no PB, buscando evidências sintáticas, semânticas e prosódicas acerca do comportamento do sujeito e do pronome resumptivo em tais construções. A partir de evidências dessa natureza, será possível verificar se os sujeitos pré-verbais duplicados devem ou não ser interpretados como tópico deslocado à esquerda, ou ainda, se tais estruturas correspondem às sentenças com deslocamento do sujeito (como em francês, por exemplo). Este projeto ainda prevê um estudo comparativo do PB com alguns dialetos do norte da Itália. Rizzi (2015) propõe que as línguas que têm um sistema de clíticos separados da morfologia do verbo flexionado (cf. POLETTO, 2000; MANZINI; SAVOIA, 2005) podem instanciar visivelmente o núcleo da projeção funcional SubjP. Ainda que o PB não tenha um sistema rico de clíticos, o pronome que recupera o sujeito nas sentenças com redobro parece não ter o mesmo comportamento do pronome que ocorre livremente na sentença. A hipótese deste trabalho é a de que o pronome resumptivo pertence à classe dos pronomes fracos (cf. CARDINALETTI; STARKE, 1993;1999), sendo a realização lexical de Subj e, por isso, atrai um constituinte compatível com o traço “sujeito da predicação” (cf. CARDINALETTI, 1997, 2004; RIZZI, 2006; RIZZI; SHLONSKY, 2006; 2007). As principais questões de pesquisa que norteiam este estudo são: (i) nas sentenças com redobro, o sujeito pré-verbal se comporta como um tópico?; (ii) as sentenças com sujeitos duplos caracterizam o PB como língua como tópico proeminente?; (iii) a sentença com redobro do sujeito pode ser considerada uma ilha para extração?; (iv) qual o estatuto do pronome resumptivo que retoma o sujeito pré- verbal?; (v) o resumptivo pode ser analisado como um clítico ou é um pronome fraco?; (vi) nas sentenças com redobro, o pronome ocupa uma posição de especificador ou é um núcleo?; (vii) este tipo de construção aparece em uma língua de sujeito nulo?; (viii) as sentenças com redobro do sujeito do PB podem receber o mesmo tratamento das sentenças com clítico sujeito nos dialetos do norte da Itália?

Palavras-chave: Duplicação do sujeito. Pronome resumptivo. Cartografia. Português Brasileiro.

A periferia esquerda da sentença no Português Brasileiro

Sandra QUAREZEMIN (UFSC/CNPq)

Resumo: O presente projeto está destinado ao estudo da sintaxe das construções que envolvem a periferia esquerda da sentença no português brasileiro, doravante PB. As estruturas sintáticas são objetos complexos que têm uma organização hierárquica resultante da aplicação repetida de uma mesma operação de combinação de dois elementos, chamada Merge. A partir dos anos 80, muitos trabalhos vêm mostrando que os sintagmas e as sentenças têm uma estrutura interna bem articulada. A cartografia visa à elaboração de ‘mapas’ das estruturas sintáticas das línguas. Dessa forma, investiga a estrutura hierárquica dos constituintes sintáticos de forma detalhada e sistemática, identificando representações complexas com posições dedicadas a diferentes interpretações (cf. CINQUE, 1999, 2002; RIZZI, 1997, 2004; BELLETTI, 2001, 2004). Uma pergunta fundamental para os estudos cartográficos é: quão rica pode ser a estrutura funcional das sentenças e expressões? Dentro da periferia esquerda da sentença, o projeto está destinado a investigar a forma como a sentença aparece estruturada e de que maneira os constituintes que ali estão refletem na sintaxe. O enfoque desse estudo está no encaixamento sentencial (sentenças interrogativas-Wh, relativas, completivas), nas sentenças clivadas e pseudoclivadas, nas sentenças com foco e tópico. A forma como certos constituintes são retomados na sentença subordinada também é observada. O ponto central é explicar a estrutura das sentenças que têm a periferia esquerda ativada e descrever os fenômenos sintático-discursivos relacionados a tais estruturas.

Palavras-chave: Clivadas. Interrogativas. Foco. Tópico. Cartografia

 

Nomes de Massa e Singular Nu no Português Brasileiro: Uma Proposta de Aproximação Semântica

Roberta PIRES DE OLIVEIRA (CNPq/UFSC/UFPR)

Resumo: Este projeto inicia investigando simultaneamente (i) o conceito de massa, comparando propostas de formalizações – em particular a proposta de reticulado (Link, 1983 (2002))e da mereologia (Moltmann, 1997)-, e (ii) as ocorrências de nomes de massa noportuguês brasileiro (PB), tanto com quanto sem determinante aparente. Seu objetivocentral é propor uma semântica, a partir da estrutura sintática, para o sintagma de massanu (SMNu), para o sintagma de massa definido e para o singular nu (SNu), procurandoapreender semelhanças e diferenças distribucionais e de significado. Esse objetivosustenta-se na constatação, ainda preliminar, de que há um isomorfismo distribucionalentre o SNu e o SMNu no PB. Examinaremos em detalhe esse isomorfismo que, atéagora, passou desapercebido pela literatura. Nosso objetivo é explicá-lo, sem abrir mãoda distinção contável e massa. Mostramos, no percurso, que a hipótese de que adistinção entre o SNu e o SMNu se deve à atomicidade do primeiro (Schmitt & Munn,2005 e Müller & Paraguassu, 2007) não se sustenta empiricamente. Argumentaremos também que é empiricamente inadequado entender neutralidade para número, uma característica consensualmente atribuída ao SNu, como denotando átomos e somas de um reticulado (Müller, 2002). Nossa proposta entende que a distinção massa e contável não se deve à atomicidade. Desenvolveremos, a partir de Rothstein (2008/2009), que os nomes, contáveis ou de massa, na sua origem, no léxico, são não-estruturados, i.e. não formam uma álgebra booleana. Na nossa proposta, neutro para número significa que os indivíduos não estão ordenados por uma relação de parte/todo. No sintagma sem determinante aparente, a ausência de projeção de número, para o SNu (Schmitt & Munn, 2002), e a ausência de classificador para o SMNu ? uma hipótese que vamos investigar -, exigem ou uma operação de mudança de tipo. Em contextos genéricos, a mudança de tipo é realizada pelo operador down (Chierchia, 1998), que retorna o indivíduo soma máxima in.